Castidade é a virtude moral que inclina o homem ou a mulher a oferecer amorosamente sua intimidade a Deus e aos demais, de acordo com sua própria condição e características masculinas ou femininas. Em sentido mais restrito, consiste no hábito que ordena retamente o uso da faculdade procriativa.
Contemporaneamente, a castidade é muito mal compreendida. Isso é devido, por um lado, à cultura hedonista de inspiração freudiana[carece de fontes]. Com efeito, desde a revolução sexual tornou-se comum (ou socialmente aceita) a dissociação das funções unitiva e procriativa do ato sexual, reduzindo o sexo ao aspecto “lúdico”. Assim, qualquer restrição ditada pela castidade é tida como moralismo antiquado.
Em sentido oposto, a depreciação da castidade também provém de sua versão neoplatônica e estoica[carece de fontes]. Foi recorrente na história a propensãoascética a proibir o casamento e a abster-se de carne (cf. 1Tm 4,3). Taciano o Sírio (120-180 AD) é um expoente dessa tendência, pois se considera o fundador da heresia dos “encratistas” (“autocontrolados”), muito aparentada ao maniqueísmo e ao marcianismo.
O encratismo coalhou na moderna crítica ao amor cristão. Contudo, é preciso frisar que esse amor dissociado da carne só foi acolhido pela teologia protestante, como fica patente na obra do teólogo sueco luterano Anders Nygren (1890-1978), o qual consagrou a distinção entre eros e ágape, reservando só este último para o verdadeiro amor cristão. A distinção foi acolhida por Bento XVI com ressalvas. Com efeito, o Papa ensinou em sua primeira Encíclica “Deus Caritas Est” que tanto eros quanto agape são aspectos do mesmo amor divino.
O celibato, que consiste na amorosa e indivisa oferta de si mesmo a Deus, é a forma mais excelente de castidade e encontra sua razão de ser num contexto de fé. Faltando apreço pela religião, eventualmente pode ser confundido com o encratismo. Também por isso a castidade vem sendo equiparada a uma “abstinência completa dos prazeres do amor”[1], o que é ilógico, pois existe uma castidade conjugal.
Virtude
A castidade é uma parte potencial da virtude da temperança (espécie da virtude da temperança).[2] Isso não significa que esteja desvinculada de outras virtudes humanas. Na verdade, a castidade se relaciona com qualquer manifestação da vida humana. Segundo Giulia Veronese "a castidade é mais do que a simples continência. A castidade sexual expressa a renúncia consciente e vigilante da sexualidade (entendida como exercício do sexo ou que pode conduzir a ele) por parte da pessoa, obedecendo a fins mais elevados. A castidade é o resultado normal de uma eleição humana; representa a exigente coerência com valores superiores, requer o compromisso pleno de si mesmo e o coração que quer permanecer na sua integridade. Pressupõe sempre uma consciência, mais ou menos clara, do valor da sexualidade na sua dupla finalidade de procriação e amor."[3]
A castidade cristã
Sendo a virtude que modera o prazer vinculado à propagação da espécie[4], a castidade recebe também a denominação de Santa Pureza porque se crê ser impossível vivê-la sem a ajuda do Espírito Santo: a pureza cristã é “pureza santa”, um dom do Espírito Santo. Nesse sentido, ensinava o Papa João Paulo II que a pureza “é a glória de Deus no corpo humano” (cf. Audiência, 18/3/1981). Em termos negativos, consiste na “energia espiritual que liberta o amor do egoísmo e da agressividade” (CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA, Sexualidade Humana, verdade e significado, n. 16).
Em relação à sexualidade, a Igreja Católica convida todos os seus fiéis a viverem na castidade, que é uma "virtude moral e um dom de Deus" que permite a "integração positiva da sexualidade na pessoa".[5] Esta integração tem por objectivo tornar possível "a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual",[6] supondo por isso de "uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz". "A virtude da castidade gira na órbita davirtude cardinal da temperança".[7]
Logo, "todo o baptizado é chamado à castidade" [8] porque a sexualidade só se "torna pessoal e verdadeiramente humana quando integrada na relação de pessoa a pessoa, no dom mútuo total e temporalmente ilimitado, do homem e da mulher",[6] ambos unidos pelo sacramento do Matrimónio (que é indissolúvel).[9] Por isso, os actos sexuais só podem "ter lugar exclusivamente noMatrimónio; fora dele constituem sempre um pecado grave".[10] Por estas razões, o sexo pré-marital, a pedofilia, "o adultério, a masturbação, a fornicação, a pornografia, a prostituição, o estupro" e os actos sexuais entre homossexuais são condenados pela Igreja como sendo "expressões do vício da luxúria".[11]
O verdadeiro amor conjugal e matrimonial, onde a relação sexual é vivida dignamente, só é possível graças à castidade conjugal.[12] Esta virtude permite uma vivência conjugal perfeita assente nafidelidade e na fecundidade matrimoniais, onde o Amor é vivido plenamente como uma comunhão de "dádiva mútua do eu, […] de afirmação mútua da dignidade de cada parceiro" e um "encontro de duas liberdades em entrega e receptividade mútuas". [13]. Na vivência deste amor, a sexualidade (e o sexo) torna-se "humana e totalmente humanizada", tornando-se também na grande expressão deste amor recíproco, onde o homem e a mulher se unem e se complementam.[13]
Para além da castidade conjugal (que não implica a abstinência sexual dos casados), existem ainda diversos regimes de castidade: a virgindade ou o celibato consagrado (para os religiosos, aspessoas consagradas, os clérigos, etc.), e "a castidade na continência" ou abstinência (para os não casados).[14]
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